sábado, 5 de março de 2022

O Mesmo Dia


Quando eu acordei tudo estava cinza

E cheirava borracha o ar

E eu não tinha mais pincéis e nem tinta

Tentei dormir, mas não podia sonhar


Quando eu acordei, percebi que meus ouvidos

Mastigavam ruídos fabris

Eu gritei, mas ai de mim que não tinha mais voz!

Debatia-me em paredes febris


E se eu saltasse do bonde? Pensei…

Ah vã ilusão!

A roda não vai parar de girar

E o mundo não cairá no chão


Aceite a rotina

Aceite que estás crescido

Maduro, tendendo ao podre

Que até a última gota do seu sumo

Será devida para se manter em vida


Que o café sairá aguado

Que teu açúcar será amargo

E que amanhã será  para sempre

O mesmo dia