quarta-feira, 22 de junho de 2022

 

Como um pêndulo a vida dá suas voltas

E vai e volta, E vai e volta

E todos sabemos ao certo

Que terminaremos com a cara enfiada no concreto


Ai de mim que sou poeta

Que dentro dessas paredes frias

Tenta pintar o dia

Ai de mim que sou pateta!


E a vida vai e volta

E nunca, nunca tem volta

Rodopia, Roda e roda.

E no fim, o tijolo sempre vence


Ai de ti que é leitor

Entretendo-se em palavras infundadas

E que do nada

Retornará ao cimento


Talvez, apenas talvez, eu esteja enlouquecendo...

sábado, 5 de março de 2022

O Mesmo Dia


Quando eu acordei tudo estava cinza

E cheirava borracha o ar

E eu não tinha mais pincéis e nem tinta

Tentei dormir, mas não podia sonhar


Quando eu acordei, percebi que meus ouvidos

Mastigavam ruídos fabris

Eu gritei, mas ai de mim que não tinha mais voz!

Debatia-me em paredes febris


E se eu saltasse do bonde? Pensei…

Ah vã ilusão!

A roda não vai parar de girar

E o mundo não cairá no chão


Aceite a rotina

Aceite que estás crescido

Maduro, tendendo ao podre

Que até a última gota do seu sumo

Será devida para se manter em vida


Que o café sairá aguado

Que teu açúcar será amargo

E que amanhã será  para sempre

O mesmo dia



segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Eis-me!




Eis-me! Que sou sujo, sou roto e sou vil

Eis-me! Escondido embaixo da cama

Eis-me! cabisbaixo e servil

Eis-me! A lama.


Eis-me! Que sou praga, rato, erva-daninha

Eis-me! Devorando restos de comida

Escondido na cozinha.

Eis-me! Parasita


Eis-me! Que sou porco, sou fétido e hostil

Eis-me! Que chuto os fracos e me ajoelho aos senhores

Eis-me! Que sou insosso no amor e no ódio febril

Eis-me! Pois não me há mais pudores


Eis-me! Olhe-me! Caçoa-me!

Pois meu coração está exposto

Eis-me! Que quero ser notado ao menos uma vez

Dispo-me, choro e morro


sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Diante do giro incessante da roda da rotina, a seguinte a declaração foi proferida:

 AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!

sábado, 13 de novembro de 2021

Este Poema

 

Este poema carrega o peso do vazio

Palavras rotas e um grito de desespero

Este poema carrega um último suspiro

E é frio como um último beijo


Eis, este poema que é pulsão de morte

Que é o canto lânguido a beira da sepultura

Eis, que este poema é um desejo torpe

De viver outra vida futura


Este poema que apodrece 

Estas ilusões de sonhos rubros

E os anjos que cantam 

De olhos fechados no escuro


Este poema celebra a decadência

Este poema é o mais nada a dizer

Este poema que nasceu podre

Ofereço a você


Este poema...ah este poema


Este poema que tem frágeis mãos enrugadas

Este poema que tenta não morrer de tédio

Este poema que existe para não morrer de velho

Este poema que luta para viver.

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

O Antipoema

 

Eu queria escrever um poema sobre a solidão de não estar sozinho

Sobre o desespero de saber sempre para onde ir

A angústia dos dias previsíveis 

A dor de não mais sentir


Eu queria gritar meus dias silenciosos

E despertar dessas noites de sono sem sonhos

Eu queria cantar a tristeza de não estar triste

E pintar o sorriso no meu rosto morno


Eu queria escrever um poema com o sangue que não me corre as veias

Eu queria rimar com palavras que não conheço o sentido

Mas o lirismo fugiu de mim e o que posso fazer?

Se não abraçar o entardecer de meus dias?


Eu queria escrever um poema, só mais um poema

Mas não cabe a mim ser Deus neste momento

Apenas a luta para viver uma gota que seja

Sobrou a este velho coração.


sexta-feira, 13 de agosto de 2021

Sexta-feira 13

 




Anoitecendo, escuto um barulho em minha janela

Assusto-me

Mas era só o vento, eu penso


O barulho permanece, continua anoitecendo

Mas era só o vento, imagino

Escurece meu pensamento


O barulho, mais uma vez, um susto

Um sentimento frio me domina

E a porta se fecha sozinha


É só o vento, apenas o vento

Mas o que penso, não é apenas isso

Então, com a alma temerosa, decido


Ei de ver o que há na janela


Abro, lentamente, com medo

E para minha surpresa

Um gato preto.


Ele invade meu quarto

Deita-se em minha cama

E, subitamente, hipnotiza-me com seus olhos esmeralda


Gato, gato, gato


Minha mente repetia o mantra

Servi-lhe comida em minha mais cara porcelana

Dei-lhe vinho e vi que era uma escrava


E aos poucos o gato me matava